fevereiro 02, 2011

Sobre cantar, amar, viver e ansiar

Às vezes, me pergunto por que Deus me deu este dom.
Não sei o que faço. Tenho medo de perder o tom.
A música, pra mim, é como um jogo de xadrez, no qual eu estou dando checkmate.
É como um código morsa, o qual eu incrivelmente consigo entender.
É o meu território. Lá posso me perder, mas facilmente me encontro. As pessoas ao meu redor veem um labirinto onde eu vejo um lar.
Coincidência esta, não? De tanta gente no mundo, por que as notas falam comigo, então?
Elas me encontram, me ensinam, me amam. Eu as procuro... E elas já conhecem meu nome.
Me sinto em meio a mel e doce, devoro as canções e incansavelmente viajo com a melodia do cantar.
A insônia me desfalece. Mas que insônia bem-vinda! Insônia por melodias que vem me visitar, sem parar, pelo ar.
E que ar maravilhoso... Tive de explanar! Mas eles disseram: "Música é só pra cantar, é bobeira tentar!"
Sorri, querendo chorar. Disfarcei a dor e ninguém viu. Mas que tá doendo, tá.
Então, resolvi amar. Meu intenso amor hoje se resume em compor, compor um sorriso no rosto de quem me fez sentir dor.
Ainda choro, sonho e desejo... Desejo ar, pra respirar. Mas imploro a esse distante amor, que venha logo me encontrar.
Está no sangue, na veia... Nasci pra cantar. E se não será de mim, então nada será.
Eu vou me acalmar, deitar e rolar. Vou sorrir, não mais chorar. Se nasci pra cantar, tenho mais que me alegrar.

(Autoria de Bianca Melo & Caio Monteiro)
Escrito numa dessas noites de insônia, ao brincar de compor, com aqueles por quem se tem amor!

janeiro 28, 2011

Palavras surgidas da noite em claro

O que é sofrer?
Sofrer é sorrir
Pra não ter que dizer
Não dizer o porquê
De tanto choro escondido
Num baú querido, ferido e perdido
Num baú só seu
No seu coração
[...]
Meus pensamentos sempre me fizeram algum mal. Hoje, eles me tiram o sono.
Vivi coisas inimagináveis, mas sorri. Pude tocar mãos quentes e colher sorrisos que iluminam meu porão miúdo.
As palavras são uma saída, ou apenas um aviso. São melodia, poesia... São a essência dos meus atos.
Encontrei-me comigo mesma, mas depois perdi-me de vista. E agora, vago pela varanda e penso em sorrir, mas não consigo compor algo bom a esses corações que coloriram meus dias passados, errados, sofridos.
Há insistência dessas tristezas, por quererem ficar. E o que devo fazer? Não posso fugir, nem fingir não ouvir quem meu nome está a gritar.
Só quero sentir o que um dia senti. Pode ser em um sonho, ou pode ser real. Não me importo em perder o nascer do sol. Prefiro revê-lo num outro dia. Prefiro sonhar com você.
Quero a melodia do seu coração induzindo-me, mais uma vez. Eu cavei fundo demais ou ainda não te alcancei?
Quero adormecer, mas o sono se afugentou. Quero correr, mas o tempo parou. Queria um sorriso, mas você não o compôs pra mim.

Quem dera eu estivesse aí, e pudesse sentir seu abraço, pra me abandonar em território seguro e respirar fundo.
As folhas no chão me mostram a direção. Sigo em frente, e viro à esquerda. Dois passos adiante e o avistei.
Segure a minha mão, para eu não cair. Vais me ajudar a dormir, ou roubar lágrimas de mim?

janeiro 05, 2011

Tenho de dizer...

Manti-me de pé até a alta madrugada, e quando me dei conta, havia ido embora do sufocante espaço em que vivera dias de tristeza. Então ouvi minhas canções favoritas, e permiti que lágrimas escorressem pelo meu rosto seco. Impressionei-me pelo fato de que, ao ouví-las, consegui compor espontaneamente, e tão prontamente que caneta e papel não davam conta. As palavras estavam pulando de dentro do meu coração, e as lembranças me ferindo, e me fazendo pensar no seu valor.
Pensei tanto em um eterno amigo, que a saudade começou a bombardear o que restara de mim naqueles dias. A garoa incessante combinou muito bem com o que se passou ali.
Cansei-me, e verti muitas lágrimas por palavras e olhares frios dirigidos a mim, que levaram embora a minha força, que já era pouca. Aos rastejos, naquela estrada escura, eu fui encontrando as pegadas que você deixou, e a esperança fez surgir um custoso sorriso em minha face. Talvez, a partir disso, eu conseguiria voltar ao que chamam de estabilidade, e eles deixariam de me olhar como se eu fosse estranha, quando, na verdade, apenas algumas mudanças haviam se manifestado. Foi uma pena essas mudanças serem tão inconcebíveis a eles, a ponto de me olharem com olhos de furor. Então eu quis gritar, mas emudeci, e o silêncio doeu em mim.
Mas sei que o sol vai voltar, e tudo vai se alinhar. Ou seria eu capaz de me esquecer que mesmo as feridas mais profundas cicatrizam, e que a escuridão converte-se em luz ao amanhecer?
Senti-me lentamente consumida pelo medo de não te ver mais, e silenciosamente ferida pelos pensamentos alheios, a respeito de mim. Parecia que em alguns dias eu partiria para algum lugar distante, agonizante e sem vida. Perguntava-me sem cessar porquê estaria me sentindo assim, e talvez eu soubesse a resposta, mas tudo o que eu queria era apenas seu abraço, pra me acalmar, cedendo-me alguns segundos de suspiros vivificantes.
Tenho pacientemente esperado por dias que parecem não chegar, para que você abra a janela de manhã, deixe a luz entrar e me diga que sempre estará do meu lado, mais uma vez.

dezembro 10, 2010

What friends are for


Catherine amava seu vestido rodado, mas detestava o que vivia. Ela era sozinha e necessitava de um abraço, todos os dias.
Andava em ruas vazias, buscando um intruso amigo que mudasse a face pálida e triste que ela tinha.
Pessoas como Catherine, certamente chamam a atenção, mesmo contra a vontade delas. Mas ela se ocultava tanto, que quase não a notavam.
Encontrou um bosque, vazio como queria. Sentou-se com suas folhas velhas e amareladas, e sua pena de criar, pra criar um novo horizonte.
Chorava por não conseguir sorrir. E quanto mais sozinha estava, menos viva se sentia.
Umedeceu as folhas, e tentava escrever sobre um dia ensolarado que vivera.
Catherine mal sabia o que lhe esperava.
[...]
Havia um garoto, sozinho e frustrado. Ele buscava desesperadamente um ombro amigo, no qual pudesse se apoiar.
Ele nunca soube o que é ser notado e querido.
Lembrava-se constantemente do seu passado, quando tinha amigos... Mas agora, todos haviam partido.
E a partir desse choque em ossos tão fracos, ele desistiu de buscar, e estava triste por não encontrar essa amizade tão sonhada, que ele queria experimentar.
Ele corria para longe, como que fugindo de sua infelicidade. Mas isso não adiantava.
Conhecia lugares desertos mais que todos daquela cidade, pois era ali que se escondia.
John se escondia por medo, medo das feridas e do olhar sufocante das pessoas sobre ele.
Um dia decidiu fugir. Fugir temporariamente. Fugir de seu quarto bagunçado e cheio de memórias, que cresceram até o sufocarem.
Correu, até perder o fôlego. E quando parou, avistou uma estrada por entre as árvores. Não conhecia aquele lugar.
John caminhou ali por alguns minutos.
Aquela estradinha levava a um lindo bosque, vazio como John era, e lá o vento fazia barulho.
Andou examinando tudo com grande curiosidade. Até que se assustou. Congelou.
Viu ao longe um banquinho, e uma garota sentada sobre ele. Ela parecia chorar, e estava inclinada olhando para algo à sua frente.
John estremeceu.
Era Catherine, chorando sobre suas folhas já úmidas e cheias de palavras que haviam vindo de dentro do seu ser.
John pensou. Pensou muito, e decidiu aproximar-se.
Trêmulo e cheio de dúvidas, caminhou silenciosamente até Catherine. E sentou-se ao seu lado.
Catherine assustou-se, e o viu com os olhos cheios de lágrimas que estavam prestes a escorrer pelo seu rosto.
Não o conhecia, nem ele a conhecia. Mas, pela primeira vez, teve coragem de dizer algumas palavras além do que sempre tentava.
"Meus passos foram longos até aqui, mas sei que foi o seu choro sincero que me trouxe. Há anos venho buscando um ombro, e acho que hoje posso dar-lhe o meu".
Ela o olhou com olhos de gratidão, sorriu, e um abraço os fez estarem mais próximos.
Catherine não tinha mais uma face pálida, e John não carecia mais de um ombro.
Sabiam que seriam amigos, sem precisar dizer. E a partir dali novas vidas surgiram.
Unidas, por um forte laço de amizade.
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"Cada amizade é uma ponte que surgiu, para usufruirmos dela quando o chão está cheio de pedras, e fica difícil caminhar." (Bianca)